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Rede Formativa Peirô

Bonecos e Cenários de Papelão: um laboratório de criação possível


Texto de Ana Emília da Rosa Kessler



Que o papelão é um dos melhores amigos dos bonequeiros e dos professores isso a gente já sabia, mas ainda assim fomos surpreendidos!! O processo de laboratório de pesquisa para construção dos bonecos envolve uma série de passos: buscar referências, pensar os materiais, criar combinações, observar a durabilidade, custos, explorar as possibilidades de manipulação, etc. 


A pesquisa com o papelão foi uma das primeiras experimentações do coletivo, e vem nos acompanhando desde então. Ela inicia quando o coletivo se propôs a pensar materiais acessíveis, seguros e baratos, viabilizando o processo de construção de bonecos dentro e fora dos espaços educacionais.  


Uma das referências iniciais neste processo todo foi o trabalho desenvolvido por Samuel Wilde (@samueljwilde), designer/fabricante de teatro de marionetes e entusiasta de papelão, como ele se descreve; e também o trabalho dele com o Cardboard Adventures (clique aqui para conhecer o site). A partir da observação de características e das técnicas desenvolvidas para o trabalho com papelão, buscamos caminhos de experimentação e criação de nossos próprios bonecos e a reprodução de algumas das criações de Samuel para compor nossa oficina de teatro de papel, como um caminho de inspiração, expansão e possibilidades. 



Coruja de papelão voando sobre mesa.
Fonte: site Cardboard Adventures

Outra referência é o trabalho desenvolvido por Paper Heart Puppets (conheça o trabalho deles clicando aqui) que também tem o papelão como principal material para o desenvolvimento da cena teatral com bonecos! Uma das coisas que mais curtimos na proposta desse grupo é a brincadeira com o formato da caixa de papelão que é mantido em vários dos bonecos, característica do espetáculo “Explosão de papel”. A estética do papelão “cru” é um ponto forte dessas duas referências, dando destaque ao material utilizado para a criação!



Um ator vestindo roupas em tons de papelão, ele está cercado de personagens feitos de papelão: minhocas, dragão, um gigante, casas e prédios.
Fonte: Site Paper Heart Puppets

Uma referência brasileira para o nosso trabalho é Bruno Dante, que trabalha com diversos materiais, mas sempre tem um pedacinho de papelão junto! Esse tubarão, por exemplo, foi feito para o espetáculo “Bertoldo ou o tubarão que queria ser gente” da @buiateatro de Manaus. E não é que ele manteve os formatos da caixa também?!


Homem posando ao lado de uma escultura de tubarão azul, feito de papelão.
Fonte: instagram @arte.dante

Então partimos para as nossas experimentações, dando vida à vários de nossos bonecos e cenários! Em alguns casos o papelão foi usado como base, em outros optamos por manter os bonecos em sua forma mais “crua” mostrando o material usado como escolha estética. 


A raposa foi construída utilizando rolinhos de papelão (do tipo mais durinho, que vem do plástico filme, papel alumínio, etc) para os braços, pernas e pescoço, e pedaços de papelão dobrados em diferentes formatos para o tronco e cabeça. Para as estruturas quadradas ou retangulares foram feitos vincos para marcar o local de dobradura, posteriormente fixando com cola quente, enquanto as formas mais orgânicas ou semi-circulares (como o encaixe entre as pernas) foram construídas usando duas bases laterais iguais, e um pedaço de papelão moldando a forma. Nesse segundo caso, foi preciso “amolecer” o papelão, marcando suas linhas ao enrolar, deixando mais maleável para a compor a forma.


Três pessoas animando um boneco raposa feito de papelão,
Foto: Nathália Arantes

Para a construção dos membros com os rolinhos de papelão, foram feitos pequenos cortes em uma das extremidades das articulações, como no caso dos cotovelos e joelhos, para possibilitar um movimento para um dos lados e respeitar semelhanças anatômicas com o nosso próprio corpo (é bem difícil manipular um boneco quando o joelho vira pra frente!!!). A junção das partes foi feita utilizando barbante (mas poderia ser utilizado arame, por exemplo), dando mobilidade às partes sem que elas percam a conexão com o restante do corpo. A mobilidade foi um desafio bem interessante, porque ela é regulada pelo tensionamento do barbante: se fica bem soltinho, os membros podem se mover com maior amplitude, se fica muito apertado o movimento fica  mais difícil de ser realizado. E nesse caso a quantidade de tensão foi testada através de tentativa e erro, não tem como fugir.


Já o ratinho vinha povoando as nossas ideias fazia um tempo, e quando vimos a potência e simplicidade do rato proposto por Samuel Wilde, logo pensamos: as profes precisam experimentar isso!! O ratinho teve um processo de construção que pode ser dividido em 3 partes. Na primeira, a cabeça foi feita com um procedimento parecido com a forma orgânica da raposa: desenha e recorta as formas laterais, e posteriormente fixa um pedaço de papelão já vincado e maleável, formando o topo e frente do rosto. O corpo do rato também utilizou esse papelão maleável, observando para que os vincos fossem horizontais, permitindo que o corpo se dobrasse de acordo com os movimentos do ratinho. Por último, foram feitas as orelhas e patas, apenas desenhando e cortando o papelão, e em alguns casos, adicionando dobraduras para criar a tridimensionalidade. Depois foi só juntar tudo com cola quente e fita crepe (no caso das patinhas dianteiras), colocar alças de papelão para ajudar na manipulação, e brincar com os movimentos possíveis dessa fofura!



Duas mulheres seguram e observam um boneco de papelão em formato de rato.
Foto: Nathália Arantes

Mas não é só de papelão que vive o bonequeiro. Junto com ele experimentamos vários outros materiais, como: caixa de ovo, cola quente, barbante, arame, jornal e até massa corrida!!! Essas combinações possibilitam trazer outras texturas e funcionalidades, misturando técnicas como papietagem e papel machê, afetando também a mobilidade e durabilidade do papelão como material base. A partir dele nós construímos diferentes tipos de bonecos e cenografia para nossas cenas. O papelão está com a gente, marcando presença em todos os processos até aqui, desde os bonecos híbridos até às nossas casas de teatro lambe-lambe!



Bonecos Híbridos 


Os nossos bonecos híbridos tiveram suas cabeças estruturadas a partir do papelão, usando tiras de papelão fixadas pelas pontas à uma base ovalada (com o formato e tamanho que queríamos a cabeça), que ficava presa a um cabo reutilizado de pote de amaciante, bem a parte da alça (olha os recursos acessíveis aí minha gente!). Depois foi só preencher os buracos que sobraram com jornal, para deixar leve sem correr o risco de ceder a estrutura do boneco, papietar e criar as formas do rosto utilizando a técnica do papel machê.


Duas cabeças em construção, feitas de papelão e jornal com olhos de bolinhas de isopor.
Fonte: acervo Coletivo Peirô


Cena de teatro: uma atriz anima um boneco híbrido que está lavando roupas.
Foto: Gabrielle Luiza Simon

Cena de teatro: Uma atriz anima um boneco híbrido. Ele é um homem-planta e está plantando uma mudinha em um vaso.
Foto: Nathália Arantes


Lambe-lambe: A Casa do Gato


A casa de lambe-lambe da cena “Todo dia” foi feita usando uma caixa de papelão como estrutura principal, acrescentando folhas A3 (180g) para criar as formas curvas. Depois veio a papietagem e a pintura.  A parte interna também utilizou papelão, mas esse mecanismo já é história para outro momento.



Casa Lambe-lambe em construção, tesoura e cola, montada sobre superfície vermelha.
Fonte:acervo Coletivo Peirô

Criança com fones de ouvido observa Casa Lambe-lambe, agora finalizada, amarela com telhados roxos e janelas e portas coloridas.
Foto: Nathália Arantes


Um Sol Giratório


O sol teve toda sua base feita em papelão, e nesse caso, optamos por uma estrutura com uma estética mais “flat” (planificada). Ela foi composta por pedaços de papelão planos, recortados em formas diversas e fixados em camadas, posteriormente foi papietado (duas camadas) e adicionado uma camada de massa corrida para garantir firmeza a estrutura. Foi nesse processo que descobrimos as maravilhas de utilizar um estilete de precisão e mesa de corte para fazer formas pequenas ou com muitas curvas no papelão.



Fonte: acervo Coletivo Peirô

Sem dúvida a versatilidade do papelão é uma característica muito legal e que possibilita criações em duas ou três dimensões! E o mais incrível de tudo isso? Saber que com um pouco de papelão, criatividade e vontade de experimentar, muita coisa acontece! Cada vinco, cada dobradura, cada camada colada é uma oportunidade de contar histórias, de criar presença e de brincar com o que parecia ser só uma caixa vazia. O papelão pode até parecer comum, mas nas nossas mãos, vira bicho, vira cena, vira sol que gira no palco. Então, bora guardar aquela caixa da próxima compra, pegar a tesoura, a cola quente e dar vida ao que ainda não existe? Vamos construir juntos?




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