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Rede Formativa Peirô

Máscaras na Educação Infantil: da construção ao brincar

Texto de Ana Emília da Rosa Kessler



Nas semanas que antecedem o fim do ano letivo, junto com as conversas sobre as férias e sobre como seria quando voltassem para a escola, as crianças começaram a expressar alguns desejos para os últimos dias: uma festa do pijama, um piquenique, pinturas e brincar de animais. Em planejamento junto a professora do outro turno, buscamos contemplar os pedidos, adicionando alguns detalhes para que essas propostas tivessem sentido para nós e para eles!


O faz de conta de imitação dos animais, com pequenos enredos e diferentes contextos de interação, já estava permeando as brincadeiras da turma, por vezes acompanhados de pinturas faciais dos animais escolhidos. Então, optamos por adicionar um elemento “permanente”, que eles pudessem tirar e colocar, trocar entre si e levar para casa. Assim iniciou a proposta que venho aqui compartilhar: um processo de construção e brincadeira com máscaras, feitas em conjunto com alunos de 2 a 4 anos.


Antes de construir a base das máscaras, conversei com a turma sobre quais animais eles gostariam de “ser”, lembrando de algumas brincadeiras que já haviam feito e de seus próprios pets. Foram escolhidos gatos, cachorros, coelhos, galinhas e patos. Então, passei a construir a base dessas máscaras, tendo como foco alguns objetivos e limitações:


  1. Material resistente: a ideia é que eles pudessem brincar e explorar, sem precisar se limitar em função do material ser pesado ou frágil;


  2. Fácil acesso e baixo custo: final de ano em escola pública os materiais já estão mais escassos e o recurso sai quase totalmente do que o professor tem em seu próprio acervo, inclusive materiais que normalmente a escola dispõe, como cola e tinta;


  3. Não depender do molde dos rostos de cada um: com uma professora para quatorze crianças as demandas são diversas, e não podemos apenas pedir que os demais esperem enquanto um faz um molde de gesso, por exemplo. Além disso, considerando que são crianças bem pequenas e ainda não desenvolveram fatores de inibição de seus impulsos o suficiente para aguardar o período de secagem de uma base individual (essa não deixa de ser uma experiência válida, apenas é necessário que as condições para sua realização sejam favoráveis).


  4. As formas da base deveriam auxiliar a criança a se aproximar da imagem de animal que pretendia: processos de criação livre são importantes, mas em alguns contextos, ter linhas guia ajuda a criança a organizar seu pensamento e as ações necessárias para alcançar o objetivo pode ser fundamental.


A solução encontrada foi fazer uma base de papelão utilizando caixas de pizza (dessas congeladas de mercado mesmo), já que elas tem um material resistente, fácil de cortar e que “rende” (uma caixa de pizza servia para fazer entre 4 e 6 bases de máscara). Utilizei um modelo bem comum  (imagem 1), arredondado, onde a parte  mais importante é fazer pequenos cortes nas laterais e no topo, permitindo que as “abas” cortadas se sobreponham, criando uma tridimensionalidade (imagem 2). 


Clique para ler as legendas das fotos

Imagem 1: Molde feito de papel kraft com as marcações para recorte.

Imagem 2: Base de máscara com as abas fixadas para dar tridimensionalidade


Depois disso foi o momento do papel machê. Fiz a massa no dia anterior utilizando caixas de ovos trituradas e cola branca, e individualmente, convidei os alunos a cobrir e criar relevos sobre as bases de papelão. Esse processo foi bem interessante, repleto de aprendizagens e experimentações. Nele as crianças precisavam quantificar a massa necessária, cobrir a superfície utilizando diferentes movimentos (inclusive o famoso movimento de pinça), criar relevos, seguir instruções, tudo isso além da própria exploração sensorial da textura da massa.


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Imagem 3 e 4: crianças da turma construindo a máscara com papel machê.


Após 2 a 3 dias secando, chegou a hora de pintar! Como a  massa de papel machê ficou com coloração arroxeada em função das caixas de ovos, precisamos passar uma demão de tinta branca antes de colorir. Nesse momento o desafio era não deixar nenhum pedacinho sem ser pintado, o que não era uma tarefa fácil por causa da textura da massa.


Menino pinta máscara com tinta branca.
Imagem 5: criança da turma pintando sua máscara com tinta branca

Depois de mais um dia de secagem, a máscara estava pronta para as cores! As bandejas de tinta circulavam pela mesa, de modo que cada criança pode escolher as cores e combinações que gostaria de fazer. Apesar de não haver uma busca por cores realistas ou por delineados sofisticados, cada criança apresentou um padrão de pintura diferente: alguns pintavam tudo de uma cor, depois passavam para outra; outros escolheram apenas algumas cores para usar e pintavam em blocos; enquanto outros preenchiam pequenas áreas com uma cor e logo escolhiam a próxima. O processo de pintura demorou diferentes tempos para cada um, e durante aquele processo as crianças criaram laços com suas produções, agora que as diferenças entre elas estavam cada vez mais evidentes.


Turma de crianças pintam máscaras de papel machê com cores variadas.
Imagem 6: Crianças da turma colorindo suas máscaras.

Mais um dia de secagem e de espera, um tempo para furar e colocar elásticos e, finalmente, era chegada a hora de brincar com as máscaras. A empolgação tomou conta da turma. Cada um foi direto para a sua máscara, sem a necessidade de identificação por nome, e o mais rápido possível as máscaras já estavam nos rostos.


A brincadeira começou livre, pela experimentação, onde alguns imitavam sons e movimentos, e interagiam entre si. Após, introduzi o jogo “caminhada dos animais”, onde experimentamos diferentes formas de caminhada, conduzidas também pelo dono de cada máscara,  explorando diferentes movimentos e pontos de equilíbrio. E por fim, retornamos ao brincar livre, onde através do faz de conta, foram criados pequenos diálogos e situações (um cachorro latindo enquanto perseguia um gato; uma galinha comendo milho; etc.). As máscaras compuseram a mostra pedagógica, e ao fim da programação cada criança levou a sua para casa. 


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Imagem 7 e 8: turma experimentando brincadeiras com as máscaras.

Um dos pontos fortes desse processo de aprendizagem foi  o tempo de espera. O processo não aconteceu de um dia para o outro, ele levou mais de uma semana para acontecer. Durante esses dias as crianças criaram vínculo com suas próprias produções, participando ativamente de diferentes etapas, observando e experienciado a complexidade da construção  em etapas, se confrontando com as diferenças entre as produções de cada um, gerando sentido e pertencimento para a brincadeira. 


13 máscaras de animais feitos em papel machê sobre uma mesa.
Imagem 9: máscaras finalizadas compondo a mostra pedagógica da turma

Não são máscaras profissionais, tampouco as técnicas corporais eram o foco. Mas mais uma vez, criamos um caminho de aproximação, de criação de referências estéticas,  de produção de sentidos e de possibilidades, o que por si só é potente e belo.




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