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Rede Formativa Peirô

O piazito e o pinheirinho

Atualizado: 10 de dez.

Texto de Charles de Almeida Ferreira


Uma história de criança


Um sonho de piá.

Uma brincadeira de gente grande.

Um menino que cresce e não deixa de sonhar.


“O piazito e o pinheirinho” são daquelas histórias que me acompanham por muito tempo sem destino certo. Como um barco a deriva navegando no mar, por vezes calmo, outras revolto, mas que um dia chega ao porto seguro. A viagem dessa história foi compriiiida, porém feliz.


Depois de 20 anos dirigindo um grupo de teatro no sul do sul, os ventos da serra do sudeste sopraram para a região central e voei com eles. Quem já participou de um grupo de teatro sabe como dói uma separação. Imaginava eu que seria fácil encontrar outros locais para continuar contando minhas histórias, não foi assim. Uma longa caminhada estava começando, passo a passo, tempo a tempo.


Canela e seu festival


No ano de 2014 comecei a frequentar, junto com minha família, uma semana mágica, de risos, encantamentos e emoções: o Festival internacional de bonecos de Canela. Ver tanta gente com os olhos brilhando enquanto assistiam histórias contadas por artistas dando vida a bonecos de todas as formas, cores e personalidades, era uma semana de alegrias e magia. Nossas conversas sobre o festival cruzavam as fronteiras da semana na serra. Eu, Tati e Felipe relembrávamos os espetáculos, escolhíamos os que mais gostávamos e repetíamos risos e sorrisos lembrando das histórias e das cenas criadas pelos bonecos e seus bonequeiros.



Família (homem, menino e mulher) posa para foto sentados em uma plateia a céru aberto, ao seu redor outras pessoas.
Festival Internacional de Teatro de Bonecos de Canela - Charles, Felipe e Tati na praça em Canela - Foto: Charles Ferreira

Como ter um espaço neste mundo de encantamento?

Em um desses encontros, participei de um bate papo com os bonequeiros. Naquele dia conheci um casal que somente tinha visto nos palcos. Já tínhamos conversado com o hermano, boneco Carlão, mestre de cerimônias do festival e trocado um buenas com os Gaúchos, personagens característicos do festival. Mas desta vez, estava sentado ao lado do Nelson e da Beth, do Bonecos da Montanha. Trocar um mate e bater um papo sobre as alegrias e dificuldades da vida dos bonequeiros, era de imenso valor sentimental e de um aprendizado que se guarda no peito. Restou uma promessa daquele bate papo: escrever uma história para eles. Promessa cumprida somente em 2022 com a dramaturgia “Os últimos dias para o início da vida de Dom Tenório”.




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Foto 1: Festival Internacional de Teatro de Bonecos de Canela - Charles, Felipe ao lado de Nelson Haas – “Gaúchos”, El Chonchón “Juan Romeu e Julieta Maria” e o "Gran teatro dentro", de Fausto Barile - Foto: Tatiane Porto

Foto 2: Festival Internacional de Teatro de Bonecos de Canela - Charles, Felipe ao lado de Beth Bado e Carlão - Foto: Tatiane Porto.

Foto 3: Festival Internacional de Teatro de Bonecos de Canela - Debates - Foto: Charles Ferreira.



Quando voltávamos para casa, eu e o Felipe brincávamos com os dedoches, com bonecos de plástico e jogávamos bola com bonequinhos que vinham de “surpresa” em pequenos ovos de chocolate. Ali começavam os estudos de como esses objetos humanizados ou não, poderiam ser as estrelas e uma extensão de nossas ações para contar as histórias que nos impulsionam a sermos artistas.


Um homem e um menino sentados à mesa brincando com bonecos e briquedos variados.
Charles e Felipe - Brincadeiras - Foto: Tatiane Porto

No festival de bonecos de 2016, em um sábado, com o calor de outubro aquecendo sem queimar, com a brisa soprando na praça, que embaixo de uma lona, em frente a um palco montado ao ar livre, assistimos “O pequeno príncipe de papel”, do grupo Girino. Figuras de papel coloridas contavam uma história conhecida. Embora não tivessem movimento na face, mesmo não possuindo articulações mecanizadas e de complexo funcionamento, todo o público estava comprometido em acreditar que articulavam as palavras e se moviam e contando uma história. A magia do teatro de bonecos acontecia quando ouvíamos a animadora falando e fixávamos o nosso olhar nas figuras de papel. É o acordo com o público, nós artistas e bonecos de livre e espontânea vontade, combinamos que é preciso acreditar na fantasia e deixar que a brincadeira nos leve para esse outro universo de imaginação. Acerto feito, sem contrato assinado, nossos olhos começam a ver os lábios dos bonecos se expressando, as mãos se mexendo, os pés em corrida e o brilho nos olhos resplandece.

Não vai ser fácil, mas quero participar desse mundo de histórias de papel.



personagens do espetáculo "O Pequeno Príncipe de Papel" sobre uma mesa, atrás deles uma atriz vestindo roupas bege e marrom e uma touca de aviador, além de um nariz e bigode postiços.
Espetáculo "O Pequeno Príncipe de Papel" do Grupo Girino (acesse o site do grupo aqui)


Os primeiros bonecos


As primeiras tentativas ainda se encontram nas prateleiras de nossa casa. Recorta, cola, dobra, refaz… Descobrindo que é preciso montar o boneco e perguntar pra ele como ele quer se apresentar e de qual a sua personalidade. No teatro de bonecos a personagem vai pra prateleira após contar sua história, se mantêm viva. Os olhos do boneco te seguem em uma lembrança de que ele está ali e precisa de ti para que volte a falar. Com o tempo entendi que precisamos um do outro para que possamos falar.



Três bonecos tridimensionais feitos de papel sobre uma mesa onde também estão extensões, tomadas e uma tv ao fundo.
Primeiros bonecos de papel - Construção Charles e Felipe - Foto: Charles Ferreira

A primeira experiência de montagem de um espetáculo foi “A Poupa de Natal” apresentada para a E. M. E. F. Júlio do Canto. Foi um teste, uma pesquisa de campo, na qual pudemos entender na prática os desafios dessa forma de expressão teatral.



Um homem e um rapaz apresentam uma cena com bonecos de papel para uma turma de crianças em uma sala de aula.
Charles e Felipe em “A Poupa de Natal” - Foto: Tatiane Porto



Encontros teatrais


O tempo foi passando e neste ano de 2025 o barco da história do piazito foi enxergando ao longe sinais de que pudesse ancorar.


Três acontecimentos levaram a história ao cais: uma pesquisa no curso de arquitetura, uma oficina com o grupo Peirô e compartilhar conhecimentos com os alunos do curso de teatro.


O grupo de pesquisas Ensino de Projeto no Curso de Arquitetura e Urbanismo: Imaginários, Procedimento Metodológicos e Experimentações, conduzido pela professora Josicler Alberton acolheu a ideia de construir uma oficina de cenografia com a elaboração de histórias com bonecos e cenários de papel. Foram seis meses de preparações e estudos culminando na montagem de dois espetáculos. Tudo produzido pela equipe formada pelas mestrandas Brenda Pousada, Mylena Roehrs e Samara Baggiotto. Do roteiro até a montagem foram descobertas, experimentos e muito esforço.




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Foto 1: Samara Baggiotto – “Catarina e o que vou ser quando formar?” - Foto:  Brenda Pousada.

Foto 2: Mylena  Roehrs – “Eu nunca quis ser pequena” - Foto:  Brenda Pousada.


Durante o processo de trabalho no grupo de pesquisas da arquitetura, participei, junto com o Felipe de uma oficina de teatro em miniatura produzida pelo grupo Peirô e ministrada pela Genifer Gerhardt. O processo de modelagem com cerâmica fria, a construção dos figurinos e a pintura dos bonecos, regado com as histórias de vida coletadas com todo o carinho pelos rincões do Brasil e magistralmente transmitidas pela Genifer, abriram mais possibilidades para que a minha história pudesse encontrar um local para aportar. Lá Dom Borges nasceu como boneco. Já existia em conto, guardado na gaveta, mas agora estava materializado e podia nos ver e sorrir por trás do bigode.




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Foto 1: Genifer Gerhardt e Felipe Ferreira – Oficinas Peirô - Foto: Charles Ferreira.

Foto 2: Dom Borges na oficina da Genifer produzida pelo Peirô - Foto: Charles Ferreira.


Por fim, um convite especial da professora Marcia Berselli para compartilhar os conhecimentos na confecção de bonecos de papel para a turma de Elementos da Cena, no curso de Licenciatura em Teatro, trouxe a coragem que faltava para “O piazito e o pinheirinho” ancorarem. Foram dias de troca, aprendizado e várias risadas com um grupo de alunos criativos e atentos a cada processo realizado na construção dos bonecos.


Selfie em grupo: à frente um homem, ao fundo grande grupo de pessoas segurando bonecos de papel, entre eles uma mesa com materiais diversos, cola, fita, tesoura, etc.
Turma de Elementos da Cena da Professora Marcia Berselli - Foto: Charles Ferreira

“O piazito e o pinheirinho” foi apresentado a primeira vez, como o resultado final da oficina da Genifer e do grupo Peirô, depois para os alunos de arquitetura na oficina “Calunga (em)cena: Experimentações cênicas em arquitetura e, por último, para os alunos da disciplina de Elementos da Cena, no curso de Licenciatura em teatro. Foram três dias pensando que era possível entrar no mundo dos bonecos e participar desse universo lúdico e criativo.


Outras histórias estão em criação, outras esculturas de papel estão se formando e outras histórias estão buscando ancorar em um porto seguro. Por hora, Dom Borges, piazito, encontrou seu lugar, aportou. Fez sorrir e fez chorar, em poucos minutos contou sua história de um velho que nunca deixou de ser criança e espera continuar levando seu conto para outras paragens, como ele mesmo diria.



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Foto 1: “O piazito e o pinheirinho” - Foto: Ellen Faccin.

Fotos 2 e 3: “O piazito e o pinheirinho” - Foto: Brenda Pousada.


Agradeço a oportunidade de participar das oficinas do Peirô, especialmente pelo calor da acolhida e a fraternidade do encontro, a Genifer pela generosidade em compartilhar e a delicadeza de seu trabalho, ao grupo da arquitetura, Prof. Josi, Brenda, Mylena e Samara, pela disponibilidade, coragem e entusiasmo para explorar outras fronteiras e a professora Marcia pelo incentivo, pelo espaço de ensino e aprendizagem e pela amizade construída com todo o grupo da disciplina de Elementos da Cena.




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