Zuli e o Livro de Memórias
- projetopeiro
- 9 de dez.
- 3 min de leitura
Texto de Ana Emília da Rosa Kessler
Quem acompanha os textos por aqui sabe que sou pedagoga e trabalho na rede municipal de uma cidade bem pequenininha - a cidade inteira tem apenas uma escola de Educação Infantil, acredita?! Nessa escola, trabalho com uma turma de 14 crianças, com idades entre 2 e 4 anos. Ao longo do ano desenvolvi algumas propostas a partir do teatro de formas animadas, pensando em contemplar diferentes finalidades pedagógicas e também algumas demandas que percebo importantes, uma delas é a relação com as famílias.
Um dos maiores desafios que sinto ao trabalhar com Educação Infantil é conseguir acessar as famílias: estabelecer laços e realizar propostas que criem espaços de trocas entre os universos de convivência da criança. Considero isso muito importante, porque a criança é uma só(!) e precisamos pensar no desenvolvimento dela de forma integral, ou seja, colocar em diálogo as vivências que ela tem no espaço escolar e no espaço da família. Pensando nisso, ao longo do 2º semestre de 2025 desenvolvi com a turma uma proposta chamada Zuli e o Livro de Memórias.

A proposta foi bem simples (não precisamos reinventar a roda sempre!): cada semana um integrante da turma leva para sua casa um boneco chamado Zuli, e uma pasta com espaço para colocarem registros daquilo que vivenciaram durante a semana junto ao boneco. O boneco foi “reutilizado” de uma experimentação que eu havia feito alguns meses antes, tendo como materiais base cola e algodão, e alguns pedacinhos de biscuit, então apenas finalizei o corpo de tecido para que ele pudesse começar suas viagens.
Zuli foi para as casas em uma sacola de algodão cru customizada pelas crianças com tinta aquarela, o livro de memórias (uma pasta de saquinhos com folhas para o registro) e algumas instruções para as famílias sobre o que poderia ser feito. Os registros poderiam ser os mais variados: fotos, desenhos, relatos escritos, colagens… tudo isso para a turma conhecer um pouquinho mais dos colegas para além do dia a dia na escola.

Os registros foram lindos: desde passeios, idas à pracinha, momento de dormir, interação com irmãos e outros familiares, brincadeira com Zuli e outros bonecos ou pets da casa, etc. Assim, ao trazer o boneco após uma semana, a turma se reunia em círculo para compartilhar a experiência, mostrar os registros, contar das brincadeiras, falar sobre sua família e a vida fora da escola. Nesses momentos as crianças não falavam apenas da brincadeira com o boneco, elas desenvolviam diferentes habilidades fundamentais para a faixa etária: elaboravam relatos complexos com marcadores temporais, estabeleciam relações de pertencimento, brincavam de faz de conta, identificavam e compartilham hábitos e rotinas da família e da comunidade… teve tanta coisa potente ali!


Pensar as Formas Animadas na Educação Infantil não é (ou não deveria ser) apenas sobre professoras apresentado pequenas adaptações dramatúrgicas usando fantoches, mas sim um universo de experimentações e vivências onde a criança é protagonista, o que tem um potencial incrível de articular conhecimentos fundamentais para o desenvolvimento das crianças. No final do ano, Zuli e o Livro de Memórias fizeram parte da mostra pedagógica da turma, onde as famílias puderam revisitar a experiência e as crianças tiveram mais uma oportunidade de aproximação.
Nesse caso, Zuli, o boneco, funcionou como um catalisador de experiências, um disparador de idéias e possibilidades, um fio condutor para essa proposta que tinha como objetivo principal aproximar. Aproximar a família da escola, aproximar os colegas, aproximar a família e a criança, aproximar o universo das Formas Animadas e da Educação Infantil.
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Até a próxima!



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